O trabalho deverá ser entregue impreterivelmente dia 15 de junho.
A prova será realizada dia 22 de junho.
Trabalho
A partir dos dois textos e das três obras abaixo, refletir sobre as diferentes concepções de arte que eles apresentam.
TEXTO I:
“Esse escrúpulo exclusivo de mostrar apenas aquilo que é mostrado na natureza tornará sempre o pintor mais frio do que a natureza que ele crê imitar; aliás, a natureza está longe de ser sempre interessante do ponto de vista do conjunto. Se cada detalhe oferece uma perfeição que eu chamarei de inimitável, em compensação a união desses detalhes apresenta raramente um efeito equivalente àquele que resulta, na obra do grande artista, do sentimento do conjunto e da composição. É o que me fazia dizer, há pouco, que se o emprego do modelo oferecia ao quadro algo de marcante, isso só podia ocorrer com os homens muito inteligentes: em outros termos, que apenas aqueles capazes de criar efeito dispensando o modelo, são os que podem verdadeiramente tirar partido dele quando o consultam.
Que seria, aliás, se o tema comportar muito efeito patético? Vejam como, em tais temas, Rubens vence a todos! Como a franqueza de sua execução, que é uma conseqüência da liberdade com a qual ele imita, acrescenta ao efeito que ele quer produzir sobre o espírito! Vejam essa cena interessante, que se passará, se quiserem, em volta do leito de uma moribunda: traduzam, captem, se é possível, pela fotografia, esse conjunto; ele será estragado por mil aspectos. É que, segundo o grau de sua imaginação, a cena lhe parecerá mais ou menos bela, você será poeta mais ou menos, nessa cena em que você é o ator; você vê só o que é interessante, enquanto o instrumento terá incluído tudo.
Faço essa observação e corroboro todas as que precedem, quer dizer, a necessidade de muita inteligência na imaginação, revendo os esboços feitos em Nohant para a Sant’Ana: o primeiro, copiado diretamente da natureza, é insuportável quando revejo o segundo, que é, no entanto, quase o decalque do precedente, mas no qual minhas intenções são mais pronunciadas e as coisas inúteis distanciadas, introduzindo também o grau de elegância que eu sentia necessário para chegar à impressão do tema.
É assim muito mais importante para o artista aproximar-se do ideal que traz em si, e que lhe é particular, do que deixar, mesmo com energia, o ideal passageiro que a natureza pode apresentar, e ela apresenta tais partes; mas ainda uma vez, é um tal homem que as vê ali, e não o homem comum, prova que é sua imaginação que faz o belo, justamente porque ele segue seu gênio.
Esse trabalho de idealização se faz em mim quase mesmo sem que eu tenha consciência, quando eu decalco uma composição saída de meu cérebro. Essa segunda edição é sempre corrigida e mais próxima de um ideal necessário; assim, ocorre o que parece uma contradição e que explica, no entanto, como uma execução muito detalhada como a de Rubens, por exemplo, pode não atrapalhar o efeito sobre a imaginação. É sobre um tema perfeitamente idealizado que essa execução se exerce; a superabundância dos detalhes que se inserem ali, em conseqüência da imperfeição da memória, só pode destruir essa simplicidade, bem superiormente interessante, que foi encontrada primeiro na exposição da idéia, e, como acabamos de ver a propósito de Rubens, a franqueza da execução termina por compensar o inconveniente da prodigalidade de detalhes. Que, se em meio a tal composição você introduzir uma parte feita com grande cuidado a partir do modelo, e se você o fizer sem provocar uma completa discordância, você realizou a maior das proezas, harmonizou o que parece inconciliável: de algum modo, é a introdução da realidade no meio de um sonho; você terá reunido duas artes diferentes, porque a arte do pintor é tão diferente do frio copista quanto a declamação de Fedra é distante da carta de uma costureirinha a seu amante.”
Eugène Delacroix, Diário, quarta-feira, 12 de outubro de 1853.TEXTO II:
“Eles (os impressionistas) puseram fora de moda as formas inferiores do romantismo, preferindo a realidade às literaturas, o presente ao passado, a sensação justa aos equívocos do sonho. Amando, para além das elevações da natureza e do homem, as paisagens módicas, que florescem na franja das grandes cidades, os subúrbios e seus jardinzinhos, os divertimentos sob o caramanchão, os passeios de canoa, os banhos de rio, como também o prodigioso tumulto urbano, as estações de trem empenachadas de vapores e de sol, as ruas vistas do quinto andar, os hipódromos, o bar, o music-hall, não foram cronistas anedóticos, ilustradores de episódios: pediam à sua época uma força e um segredo que escapam ao tempo, a lição direta que irrompe da vida. Como Guys, misturaram-se às multidões, mas as arrancaram ao despotismo do preto e branco, à atmosfera de água e fumaça de um lavis morno, para restituí-los à poesia da luz. (...) Uma sorte de alegria os carrega, mesmo durante os rigores do inverno, mesmo na rudeza das grandes solidões, um confiante naturalismo, para o qual a vida não é nem função nem servidão, mas plenitude profusa, poder de mudança e de renovação. Pelas fortes bases da terra passa a luz do sol, passam as estações e os meses, os dias e mesmo as horas, passam os homens as como gerações de folhas do velho poeta. Tudo é aspecto movente, fluxo, diversidade, passagem; cada ser vivo é uma sucessão de fenômenos, um jogo de aparências e de movimento.
A regra de ouro que os comanda, o meio que os contém e estimula, é a luz. Os pintores impressionistas foram atraídos por ela como homens sadios, que despertaram numa manhã de verão. Tinham necessidade dela para suas obras, - e para suas vidas. Abandonaram os ateliês, as janelas dando para o norte e seus frios raios de laboratório, que levam a enxergar em cinza ou, por reação, a intensificar graças a violentos contrastes de sombra. O ar livre, foi Monet que ousou pintá-lo ao ar livre pela primeira vez, não fazendo estudos para paisagens, mas executando grandes quadros. Viu o sol mudar com as horas, espalhar uma luz, não fixa e árida, mas ondulosa, vibrátil e que volteia. Aos olhos dos impressionistas, ela foi a própria alma do universo, ao mesmo tempo constante e fugidia, sempre presente e nunca parecida consigo própria. Seguiram seus percursos e seus modos com a atenção mais desperta; viram-na vibrar: ela não atinge a terra, os edifícios, o rosto dos homens por meio de grandes planos estáveis; ela se expande em leves átomos, penetra as massas, mescla-as à sua irradiação. Ela as irisa com seus minutos rutilantes, ela arranca a matéria à inércia, ela a torna poeira, ela a volatiliza.”
Henri Focillon. La peinture au XIXe siècle. Flammarion, Paris, 1991, pg. 202-203.IMAGENS:
Eugène Delacroix. Pietà , 1844 - Paris, Igreja de Saint-Denis du Saint Sacrement (355 x 475 cm) |
Édouard Manet.Um bar no Folies-Bergère 96 cm × 130 cm 1882 Courtauld Institute Galleries, Londres |
Claude Monet. Impressão, sol nascente, 1872 – Musée Marmottan. 48 x 63 cm |
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