domingo, 20 de março de 2011

Baudelaire e o Salão de 1846

Deixo abaixo trechos do texto do Salão de 1846, de Baudelaire, traduzido pelo prof. Coli.

Lembrando que não é todo o texto que está disponível aqui no blog. Este encontra-se na pasta da disciplina, no xerox da biblioteca.

Um abraço,
Letícia


"Baudelaire: Salão de 1846 – O que é o Romatismo?

São poucos hoje os que dariam a esta palavra um sentido real e positivo; eles ousariam no entanto afirmar que uma geração aceitou travar uma batalha de vários anos, por uma bandeira que não seja um símbolo?

Lembremos os distúrbios desses últimos tempos, e veremos que, se sobraram poucos românticos, é porque foram poucos os que encontraram o romantismo, mas todos o buscaram sincera e lealmente.

- Alguns só se dedicaram à escolha dos temas: não tinham o temperamento de seus temas. – Outros, acreditando numa sociedade católica, procuraram refletir o catolicismo em suas obras – Intitular-se romântico e olhar sistematicamente o passado é contradizer-se. – Estes, em nome dos românticos, blasfemaram contra os Gregos e os Romanos: ora, é possível produzir Romanos e Gregos antigos, quando o somos nós mesmos. – A verdade na arte e a cor local extraviaram muitos outros. O realismo existiu muito tempo antes dessa grande batalha, e aliás, compor uma tragédia ou um quadro para o Sr. Raou Rochette, é se expor a um desmentido do primeiro que chegar , se este sabe mais que o Sr. Raoul. Rochette.

O romantismo não está precisamente nem na escolha do tema, nem na verdade exata, mas na maneira de sentir.

Buscaram-no fora, quando só era possível encontrá-lo dentro.

Para mim, o romantismo é a expressão mais recente, a mais atual do belo.

Há tantas belezas quanto maneiras habituais de se buscar a felicidade.

A filosofia do progresso explica isto claramente; assim como houve tantos ideais quanto houve para os povos maneiras de se compreender a moral, o amor, a religião, etc., o romantismo não se constituirá em uma execução perfeita, mas numa concepção análoga à moral do século..

(...) É necessário, antes de tudo, conhecer os aspectos da natureza e as situações do homem, que os artistas do passado desdenharam ou não conheceram.

Quem diz romantismo, diz arte moderna, - quer dizer intimidade, espiritualidade, cor, aspiração em direção ao infinito, expressos por todos os meios que as artes contém.

(...)
(Delacroix)
Não é apenas a dor que ele (Delacroix) sabe exprimir melhor, mas sobretudo, - prodigioso mistério de sua pintura, - a dor moral! Essa melancolia brilha de com um morno esplendor, mesmo em sua cor, larga, simples, abundante em massas harmônicas, como as de todos os grandes coloristas, mas chorosa e profunda como uma melodia de Weber.

Cada um dos mestres antigos tem seu reino e seu apanágio, - que é freqüentemente obrigado a compartilhar com rivais ilustres. Rafael possui a forma, Rubens e Veronese a cor, Rubens e Michelangelo a imaginação do desenho. Uma porção do império restava, em que apenas Rembrandt havia feito algumas excursões, - o drama, - o drama vivo e natural, expresso frequentemente pela cor, mas sempre pelo gesto.

É por causa dessa qualidade inteiramente moderna e inteiramente nova que Delacroix é a última expressão do progresso em arte. Herdeiro da grande tradição, quer dizer, da amplidão, da nobreza e da pompa na composição, e digno sucessor dos velhos mestres, possui, além deles a maestria da dor, a paixão, o gesto! Está aí verdadeiramente o que se faz a importância de sua grandeza. – Com efeito, suponham que a bagagem de um desses ilustres velhos se perca, ele terá sempre seu análogo que poderá explicá-lo e fazê-lo adivinhar pelo pensamento do historiador. Excluam Delacroix, a grande cadeia da história se rompe e rui por terra."
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Um comentário:

  1. Estes são apenas alguns parágrafos: é necessário que os alunos leiam por inteiro as partes selecionadas e que estão no xerox.

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